Observe, Observe..

Havia apenas uma coisa diferente no céu naquela noite: Estrelas. Ou talvez fosse a coragem que se instalava no peito daquela garota que a fizesse enxergar o seu brilho enquanto fazia o percurso de todos os dias. Seus olhos sabiam exatamente o que buscar quando entrou no pequeno ônibus lotado de pessoas que se exprimiam a fim de encontrar um lugar melhor, ela não estava preocupada com isso, deixaria se levar pelo fluxo, pois tinha coisas mais importantes para pensar. Eram rostos tão familiares que ela via todos os dias, mais que não sabiam quais eram seus nomes, ou o que fazia àquela hora, era uma distração imaginar o que cada pessoa estaria pensando, ou para onde elas estavam indo. Em uma dessas suas distrações ela o viu caminhar pelo corredor e se sentar ao seu lado, foi à primeira vez que passou tanto tempo desvendando uma pessoa apenas por seus gestos, ou pelo som da sua respiração. E isso já fazia meses que vinha acontecendo, ele começou a fazer parte do seu cenário e quando não encontrava sentando no banco de sempre sabia meio inconscientemente que algo faltava naquela noite. Como alguém poderia influenciar tanto a sua vida sem ao menos te conhecer? O sinal tocou como se anunciasse que era hora de seguir seus caminhos, ela se levantou e encontrou o olhar dele sobre seu rosto quando deu um passo para trás a incentivando descer primeiro, no segundo seguinte um sorriso apareceu nos seus lábios, era a primeira vez que um de seus gestos era exclusivamente para ela. ‘’ Eu quase posso ouvir a tua voz com esse sorriso’’, as palavras ficaram presas na sua garganta como se alguém as tivessem segurando, não teve mais troca de olhares, não teve mais sorrisos que falassem pois no dia seguinte o destino resolveu mostrar o tal cruel poderia ser, e ele não voltou a entrar dentro daquele mesmo ônibus, se sentar no mesmo banco e ver a garota que o observava imaginando como seria a sua voz. Quanto tempo havia sido gasto apenas observando?